terça-feira, 12 de maio de 2009

O céu é azul na maior parte do tempo, e quando se torna cinza, é porque vem água.
Mas quando se torna cinza, estranhamente me sinto em casa.
É que o cinza rodeou minha vida e minhas vistas por mais de duas décadas
e agora toda essa cor ainda me deixa meio desnorteado

Vir mais para o sul às vezes deixa a gente meio desnorteado.
Quando se chega na ilha, é normal se sentir ilhado.

Migrar para trabalhar, migrar em busca de ar
migrar por migalhas, migrar por migrar
o corpo vem primeiro, a alma vem mais devagar

e então quem chega no sul se sente, às vezes, insultado
às vezes meio sufocado
por tanto mar, por tanto ar

E pra morar, pra trabalhar,
é preciso procurar.
Procurar, procurar, procurar
e todo esse excesso de ar
as vezes dificulta a respiração
é que lá eu respirava ação
e aqui, se não respiro mau, respiro mar
e todo esse sal e toda essa saudade
dão uma certa vontade de chorar

E é moça bonita pra cá, moça bonita pra lá
mas essa saudade da minha cidade
essas moças bonitas não podem matar
pois a beleza da minha moça é da cidade
e se tem me matado de saudade
é porque sua mocidade
desabrochou no concreto
e sinto falta do seu olhar discreto,
firme e reto
a me fitar.

Sinto falta do seu olhar citadino
onde sou homem e sou menino
da sua boca com gosto de fumo
da boca-de-fumo
onde buscávamos nossos paraísos artificiais

o paraíso por aqui, dizem, é natural
mas é pecado dizer que às vezes é meio sacal?

o mar não é mau, é apenas mar
talvez seja questão de se acostumar
mas quem não está acostumado
às vezes fica meio mareado.

3 comentários:

vieira calado disse...

Quem está acostumado ao mar, é como se estivesse com um amigo íntimo.

Percebe-se-lhe tudo!

Um abraço, chefe!

Anônimo disse...

muito obrigada pelo help! seguirei as indicações :)

mas, por agora, vou passear por aqui.

beijo grande!

Bianca disse...

Seu blog é bem dinâmico, adorei os versos mas continuo favoritando o "Curto com vergonha #00 (Pirassununga 51 e cansaço)" :)
beijos