quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dívidas

estou fragmentado

dividido
.................por
dívidas
.......................dignas
de
.......indignação.

Devendo a
.........calça a
..........cueca a
................alma!

........................dividido
.................devido
.........ao valor
...devido.

desiludido,
...devastado,
indignado,
...endividado,
enjaulado
...no dever de
.não dever

...........mas

devo duvidar
do que devo?

devia é
.dividir a
..dívida!

que dádiva
seria!
que glória
divina!

mas duvído da sorte,
não devo esperar.

.................devo até
.................dever a
.................deus por
.................duvidar.

devo o dia,
..................minha tarde vadia,
..................minha noite fria,
..................minha vida vazia,
..................meu coração quente,
..................meus olhos doentes,
..................minha mente demente,
..................minha pena, meu pão.

devo a vida
.....indevida
.....que adio
.........há dias
.......por não
...ter tostão.

vou pagando
...............o pato.

engolindo
...............o sapo.

pagarei tudo
(em dia?) e um
........dia
......(de verão?)
.................vocês
...............deverão.

estarei sempre
a disposição.

domingo, 24 de maio de 2009

Soneto em crise

.
Mas que poeta é esse que não fala de amor?
Vermelho de vergonha pela própria humanidade!
Que poeta é esse, covarde, escondendo a própria dor?
Não pode ser poeta, melhor que seja ator!

Que poeta é esse escondido na sombra da suposta razão?
Teria perdido o coração em alguma encruzilhada?
Que poeta fajuto, fingindo não viver de luto!
Lutando às cegas contra o próprio coração.

É um poeta picareta, manipulando a audiência
Paciente ciente de como agradar o analista
Sem sequer dar pista da sua real demência.

No fundo não passa de um menino medroso
Um gato escaldado com medo de agua fria
fingindo não tomar banho por ideologia.
.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O céu é azul na maior parte do tempo, e quando se torna cinza, é porque vem água.
Mas quando se torna cinza, estranhamente me sinto em casa.
É que o cinza rodeou minha vida e minhas vistas por mais de duas décadas
e agora toda essa cor ainda me deixa meio desnorteado

Vir mais para o sul às vezes deixa a gente meio desnorteado.
Quando se chega na ilha, é normal se sentir ilhado.

Migrar para trabalhar, migrar em busca de ar
migrar por migalhas, migrar por migrar
o corpo vem primeiro, a alma vem mais devagar

e então quem chega no sul se sente, às vezes, insultado
às vezes meio sufocado
por tanto mar, por tanto ar

E pra morar, pra trabalhar,
é preciso procurar.
Procurar, procurar, procurar
e todo esse excesso de ar
as vezes dificulta a respiração
é que lá eu respirava ação
e aqui, se não respiro mau, respiro mar
e todo esse sal e toda essa saudade
dão uma certa vontade de chorar

E é moça bonita pra cá, moça bonita pra lá
mas essa saudade da minha cidade
essas moças bonitas não podem matar
pois a beleza da minha moça é da cidade
e se tem me matado de saudade
é porque sua mocidade
desabrochou no concreto
e sinto falta do seu olhar discreto,
firme e reto
a me fitar.

Sinto falta do seu olhar citadino
onde sou homem e sou menino
da sua boca com gosto de fumo
da boca-de-fumo
onde buscávamos nossos paraísos artificiais

o paraíso por aqui, dizem, é natural
mas é pecado dizer que às vezes é meio sacal?

o mar não é mau, é apenas mar
talvez seja questão de se acostumar
mas quem não está acostumado
às vezes fica meio mareado.