terça-feira, 20 de novembro de 2007

Certa amiga, quando irritada comigo,

Sempre me perguntava:

- Porra Caio, por que você não abre logo

uma loja de inconveniências?

Segui seu conselho. Virei poeta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Saudades de Madalena

Marinete hoje está diferente:
seus olhos transbordam saudades.
Deitada sob o sol,
a cabeça apoiada sobre as patas cruzadas,
Marinete pensa desesperadamente em Madalena.

Brigaram muitas vezes, é verdade;
Trocavam rosnadas e patadas o dia inteiro
Mas todos sabem que à noite,
longe de olhos humanos e enxeridos,
dormiam entrelaçadas como duas amantes.

Afinal, todo amigo é um amante.

Madalena foi viver em um lugar melhor, também é verdade,
mas nada disso consola
E agora, Marinete olha triste para a tigela laranja
perguntando-se qual a razão de tanta ração.

***

Ps: Esse poema foi selecionado para a 41a Antologia Brasileira de Poetas Contemporâneos, da Camara Brasileira do Jovem Escritor, e deve ser publicado ainda agora, novembro de 2007.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Quero um canto
para cantar.

Quero um canto
para descansar.

Quero um canto
para de cantar!

Quero um conto,
quero um desconto,
quero cor.

Queria, não quero.
Queria não, quero.

Quero tudo,
quero nada,
o que sou?
Quantos sou?
Daqueles que sou,
quantos são?
Quantos querem?
O que querem?
Quantos sãos?

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pobre do Porco

Pobre do porco

Quando nasceu, perdeu a mãe,
que precisava gerar outros
porcos.

Cresceu tão sozinho,
no meio de tantos,
o pobre do porco,
logo foi castrado,
ficou desdentado,
supra-alimentado,
logo ficou gordo,
anabolizado,
logo foi ceifado,
limpo e embalado,
pronto para ser
comercializado,
logo foi comprado...

Pobre do porco...
Não fosse tão gordo.....
Tão gostoso...
Tão gorduroso!

Talvez escapasse
de um destino assim:
tão glorioso!

Ser o (in)feliz
protagonista de
uma charmosa
comemoração.

O prato principal!
Grande e grelhado
astro da maior
das festividades.

O grande alvo
dos holofotes.

Mas o acaso é algoz cruel.
(E as idéias se repetem)

O porco, o pobre do porco,
pouco antes de ficar pronto,
escorregou, caiu na brasa.

- Quem foi o filho da puta
que deixou essa merda
cair na churrasqueira?

A festa, insatisfeita,
protesta, mas logo o luto
cessa. É festa! Tanta
cerveja ainda resta,
todos voltam depressa,
para a celebração.

E o porco,
pobre do porco,
acabou cremado!

Viveu por nada,
morreu em vão.

sábado, 29 de setembro de 2007

Todos os dias quando acordo
em cima de um lençol laranja,
eu penso nas laranjas
que pras crianças nascem em caixas.
E então tudo se encaixa,
minha vida é tão laranja,
eu ando por ai em caixas
encaixotando a esperança.