quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pobre do Porco

Pobre do porco

Quando nasceu, perdeu a mãe,
que precisava gerar outros
porcos.

Cresceu tão sozinho,
no meio de tantos,
o pobre do porco,
logo foi castrado,
ficou desdentado,
supra-alimentado,
logo ficou gordo,
anabolizado,
logo foi ceifado,
limpo e embalado,
pronto para ser
comercializado,
logo foi comprado...

Pobre do porco...
Não fosse tão gordo.....
Tão gostoso...
Tão gorduroso!

Talvez escapasse
de um destino assim:
tão glorioso!

Ser o (in)feliz
protagonista de
uma charmosa
comemoração.

O prato principal!
Grande e grelhado
astro da maior
das festividades.

O grande alvo
dos holofotes.

Mas o acaso é algoz cruel.
(E as idéias se repetem)

O porco, o pobre do porco,
pouco antes de ficar pronto,
escorregou, caiu na brasa.

- Quem foi o filho da puta
que deixou essa merda
cair na churrasqueira?

A festa, insatisfeita,
protesta, mas logo o luto
cessa. É festa! Tanta
cerveja ainda resta,
todos voltam depressa,
para a celebração.

E o porco,
pobre do porco,
acabou cremado!

Viveu por nada,
morreu em vão.

2 comentários:

Priscila Lopes disse...

Ah, adoro esse teu cantinho aqui, amigo! Adoro teus escritos, tens mesmo que mostrar!

Abraços

gustavo disse...

gostei do seu blog. a estória do porco foi bem contada. vc explorou muito bem a inutilidade do porco, da existência dele. o poema é leve, gentil - é como uma flauta num chorinho. os outros tb são adoráveis. gosto de pensar como vc. parabéns pelo que escreve!